Febre do caracol: a doença fatal que já infetou mais de 56 milhões de mulheres no mundo

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A febre do caracol está a deixar o continente africano em estado de alerta. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que já afetou cerca de 56 milhões de mulheres e meninas. A doença é causada por um parasita que se instala no aparelho reprodutor feminino e pode ser fatal.

A Organização Mundial de Saúde alerta para um surto em África desta patologia parasitária que não tem sintomas específicos.

Tecnicamente conhecida como esquistossomose genital feminina (FGS, sigla em inglês), esta patologia é causada por um verme que sai do caracol quando este está dentro de água doce, instala-se no organismo e produz ovos que atacam, no sexo feminino, o colo do útero e as trompas de Falópio. Gustavo Tato Borges presidente em exercício da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP) explica à NiT que “é uma doença que afeta maioritariamente mulheres, com consequências na capacidade de engravidar e, em casos extremos, pode mesmo levar à morte por aumento do risco de desenvolver cancro do útero e da bexiga e ainda infeção por VIH“.

Segundo o jornal britânico “Telegraph”, é nas águas no rio Kafue, na Zâmbia, no sul de África, que o inimigo invisível ataca. Depois de os parasitas saírem dos caracóis, iniciam a busca por um hospedeiro onde se possam instalar. Quando encontram a pele humana penetram até chegar à corrente sanguínea, onde viajam até conseguirem introduzir ovos no colo do útero, acabando por bloquear as trompas de Falópio.

“Um dos problemas desta doença é que não tem sintomas específicos” refere o médico de saúde pública. “Há casos em que o diagnóstico demora vários anos, durante os quais as pessoas vão recorrendo aos serviços de saúde com inchaços em diferentes zonas do corpo, febre e até com sangue na urina.”

Apesar de ser mais comum em mulheres, a febre do caracol também afeta homens e causa cerca de 280 mil mortes por ano em todo o mundo.

Kasika Mkwakti, enfermeira em Maramba, uma região da Zâmbia muito afetada pela febre do caracol, admitiu que a equipa com a qual trabalha nunca tinha ouvido falar da doença antes de 2020, como tal, só agora é que os profissionais de saúde começaram a fazer testes para tentarem detetar a infeção o mais rápido possível. “No mês passado, examinamos 48 mulheres e uma já tinha cancro do colo do útero”, contou ao jornal britânico.

A doença tem tratamento e cura

É possível tratar e prevenir a febre do caracol. Em algumas regiões da Zâmbia, país onde a doença tem tido uma progressão muito acentuada, os adolescentes recebem um tratamento preventivo anual. Seguindo recomendações da OMS, é-lhes administrado praziquantel, uma substância ativa usada para tratar infeções por vermes e parasitas.

Os miúdos são um público muito vulnerável a esta patologia. “O facto de haver um programa preventivo para menores em idade escolar sinaliza que a situação não é boa”, afirmou Precious Kaubula, líder técnico da OMS na Zâmbia, citado pelo “The Telegraph”.

O pouco acesso a água potável é apontado como uma das causas desta endemia. A escassez faz com que as pessoas procurem água para consumo nos rios, aumentando o risco de contraírem doenças como a febre do caracol ou cólera.

Gustavo Tato Borges explica à NiT que é possível erradicar a doença: a forma “passa pelo controlo da qualidade da água, assegurando que a de uso domiciliário é tratada e controlo das pragas caracóis e quimioprofilaxia em miúdos em idade escolar”, diz. Esta estratégia pode contribuir para a erradicação desta patologia, como aconteceu em países como o Japão ou a Tunísia, por exemplo. “Em Portugal, esta condição não foi detetada, felizmente, especialmente pelo melhor nível de qualidade e acessibilidade a água potável controlada”, refere o especialista.

Fonte: NIT.

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