Algarve Poupar Água
Por: Leonor Riso
“Temos atualmente apenas água até ao final de agosto”. O aviso foi dado à agência Lusa pelo presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), António Miguel Pina, após ser divulgado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) que serão impostas regras para reduzir em 70% o consumo de água na agricultura e em 15% o consumo urbano.
Afinal, as albufeiras no Algarve estão a 25% da sua capacidade, com a barragem de Odeleite, a mais importante no sistema de abastecimento de água da região, com 19% de volume útil em dezembro.
As albufeiras têm menos 20% do que em igual período do ano passado: ao todo, são menos 90 hectómetros cúbicos de água.
Com regras para reduzir o consumo, a região terá água até ao fim de 2024, explicou António Miguel Pina à Lusa. A APA deverá apresentar um plano de contingência com essas regras ainda em janeiro que, segundo o Plano de Prevenção, Monitorização e Contingência para Situações de Seca, passam por usar autotanques para reforçar o abastecimento de água, pela requisição de águas públicas e privadas por interesse público e pela proibição de usos não essenciais como encher piscinas, lavar viaturas ou regar jardins, no nível de emergência por seca hidrológica.
Também à Lusa, o vice-presidente da APA José Pimenta Machado disse que o plano de contingência vai penalizar mais a agricultura. “Este ano, no Algarve, estamos a atravessar a pior seca de sempre, nunca estivemos nesta situação, com os níveis mais baixos das reservas das albufeiras de sempre e a mesma coisa nas águas subterrâneas”, frisou.
Algarve Poupar Água
Uma das medidas que considerou importantes para travar a seca é “tornar potável a água do mar”, através da central de dessalinização na zona de Albufeira, que terá capacidade para cerca de 24 hectómetros cúbicos de água por ano, bem como o transvase no Sotavento, entre o Pomarão e o Guadiana.
O projeto da central esteve em consulta pública até 19 de dezembro. Funcionará através de um tecnologia de membrana, por osmose inversa – ou seja, pela passagem de água salgada por uma membrana semipermeável que retém os sais e lamas, bem como iões dissolvidos, partículas em suspensão, bactérias e matéria orgânica – e é financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), com um investimento de €90 milhões.
Contudo em consulta pública, a PAS – Plataforma Água Sustentável discordou do projeto por considerar que a central não é “uma alternativa eficaz e necessária”. A plataforma que junta 15 ONG’s ambientalistas aponta que a água produzida será 23,6 milhões de hectómetros cúbicos por ano, cerca de 29% do consumo doméstico. Contudo, aponta que a unidade de fabrico seja dimensionada para 250 litros por segundo, ou seja, 7,9 hectómetros cúbicos anuais, que passa para 10% do consumo doméstico.
PAS
Em suma a PAS considera que a dessalinização tem “consumos energéticos muito elevados e grandes impactos ambientais”, por exemplo sobre o recentemente aprovado Parque Natural Marinho do Recife do Algarve – Pedra do Valado, a várzea da ribeira de Quarteira ou as falésias perto das praias da Rocha Baixinha e Falésia.
Além disso, numa tomada de posição conjunta, as associações Zero e Almargem alertaram, citadas pelo jornal SulInformação, “que a água dessalinizada poderá apresentar custos dez vezes superiores ao da água produzida de forma tradicional poderá agravar fortemente as tarifas a pagar pelos consumidores”. Consideram ainda que o investimento pensado de reabilitar 125 quilómetros de rede de abastecimento de água em baixa só reduz 15% das perdas do sistema natural, “o que aparenta ser manifestamente insuficiente para justificar o investimento na dessalinização”.
Fonte: Sábado.