Porque é que este ano há muito mais moscas em Portugal do que o normal?

Imagem Ilustrativa

O verão parece estar a prolongar-se este ano: em meados de outubro, as temperaturas ainda convidam a encontros com amigos na esplanada. Seria tudo perfeito, não fossem as moscas a interromper constantemente a conversa. Não matam, mas moem — e são capazes de irritar até as pessoas mais calmas. Mas, afinal, porque é que estes insetos parecem continuar a multiplicar-se por todo o País?

O País inteiro, de norte a sul, foi invadido por esta praga de insetos. Não é impressão sua, está mesmo a acontecer.

Não é novidade nenhuma que, com o calor, chegam também as moscas em abundância. As temperaturas elevadas facilitam o desenvolvimento destes insetos e é por isso que se reproduzem mais facilmente no período do verão. Além do calor, a disponibilidade de alimentos facilita o desenvolvimento destes pequenos bichos voadores, que adoram os restos de comida deixados nas nossas cozinhas ou o lixo acumulado nas ruas.

Costumam ser um inferno no verão, mas no outono geralmente desaparecem por serem sensíveis ao frio. Contudo, não é isso que está a acontecer este ano e as moscas mantêm-se hiperativas de norte a sul do País — e muito se deve às temperaturas elevadas do mês de outubro, que favorecem a reprodução deste inseto.

“Toda a gente tem visto as temperaturas altas, está sempre calor e ainda não houve uma grande baixa de temperatura ou uma chuva contínua, que pode atrasar o desenvolvimento das moscas. Quando começa a estar frio, elas baixam a sua atividade e não se reproduzem da mesma forma”, explica à NiT Filipe Nunes, investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa.

Com a ausência do frio, o desenvolvimento destas espécies é mais rápido, o que faz com que “existam cada vez mais moscas”. O que muitos não sabem é que existe uma diversidade muito grande de espécies dentro deste grupo de insetos.

“Aquelas moscas que se estão todos a queixar são as que temos mais dentro de casa. As moscas domésticas, as varejeiras e as da fruta, que são as mais pequeninas”, informa o especialista. E acrescenta: “À partida estas espécies dão-se bem em ambientes urbanos e têm tendência a entrar nas casas e, havendo alimento, isso atrai muito mais”.

A mosca doméstica já é normal andar por casa, mas as moscas varejeiras, que se distinguem pela sua aparência metálica, são atraídas sobretudo pelas fezes de animais domésticos e carne estragada. Outro fator que as pode atrair, “são os animais mortos nas condutas que não vemos em casa”.

Já José Paulo Martins, da Associação Zero, também acredita que esta praga que tem invadido o País se deve ao clima e ao facto dos predadores naturais das moscas, como as andorinhas, já terem voado para África. Estes predadores alimentam-se de alguns gramas de insetos por dia — pode parecer pouco, mas ao fim de uns dias são milhares de insetos —, mas voam para países mais quentes no final do verão em Portugal. Já as moscas, ao contrário deste tipo de predadores, “não fazem migrações”.

 “Como os predadores já não estão cá e o clima mantém-se o mesmo do verão, é possível que os bichos se estejam a desenvolver mais. O lixo acumulado também pode influenciar”, refere o ambientalista.

Apesar de se ter sentido um aumento destes insetos na capital, a Câmara de Lisboa garante, em declarações à NiT, que “o aparecimento de moscas foi um fenómeno que aconteceu em todo o território e está associado às temperaturas que estiveram acima da média no mês de outubro em todo o território continental”.

Parte integrante da natureza, as moscas, embora irritantes, têm também papéis muito importantes, “sobretudo na reciclagem de nutrientes, reaproveitando restos de material orgânico ajudando na decomposição de cadáveres e dejetos, alimentando-se deste material”, sublinha Filipe Lopes.

Por outro lado, quando estas espécies surgem em grande número e em ambiente urbano, são vistas como uma praga e podem mesmo ter um impacto negativo, uma vez que podem transmitir agentes patogênicos, como bactérias ou vírus.

“Quando pousam em lixo ou material orgânico em decomposição, podem transportar os micróbios aí presentes e depois infetar a nossa comida, causando assim doenças. Havendo mais moscas, a possibilidade desta transmissão acontecer é maior”, diz o investigador.

A única forma de nos vermos livres destes insetos é mesmo esperar que venha um período prolongado de chuva. “Nenhuma autarquia poderá, em contexto urbano, ou em qualquer outro contexto onde os objetivos ambientais e o respeito pela saúde humana e animal constituam matéria obrigatória de políticas públicas, poderá encetar qualquer combate a este tipo de fenómenos com recurso a pesticidas ou produtos tóxicos ou químicos. Este é um fenómeno indesejado, mas por natureza é um fenómeno de âmbito sazonal”, refere a Câmara Municipal de Lisboa.

Fonte: NIT.

Conteúdos Relacionados