Cimpor investe hidrogénio e CO2
A indústria dos cimentos é das mais poluentes e, como tal, não é de admirar que a Cimpor, uma das grandes cimenteiras nacionais, apareça duas vezes no top 10 da associação Zero, com dois centros de produção entre as instalações mais poluentes do país: o centro de produção de Alhandra aparece em quinto lugar e o centro de produção de Souselas no sétimo lugar neste ranking da associação Zero.
Os centros de produção da Cimpor em Alhandra e Souselas aparecem no top 10 das maiores poluidoras em Portugal.
A este prepósito, Paulo Rocha, diretor de Inovação & Sustentabilidade da Cimpor, reconhece que o ranking da Zero “reflete a realidade”, daí a empresa estar a apostar em vários planos com vista à redução da sua pegada carbónica. “Temos em curso planos para investir mais de 150 milhões de euros até 2030 na redução gradual das nossas emissões, produção e consumo de hidrogénio verde, captura de CO2 e aproveitamento do mesmo para a produção de combustíveis neutros ou de baixo carbono”.
O responsável, numa resposta escrita ao Expresso SER, afirma que neste momento a pegada global da atividade de cimento da empresa situa-se em torno dos 700 kgCO2/t-cimento. E como é que se pode baixar este valor? “Temos em marcha um Plano Estratégico de Descarbonização, anunciado em 2020, em que nos comprometemos a reduzir as emissões específicas diretas em cerca de 37% até 2030″.
Esta redução de emissões “será feita com o recurso a tecnologias maduras (e.g., combustíveis alternativos e biomassa, matérias-primas alternativas descarbonatadas, eficiência energética, novos cimentos com menor incorporação de clínquer) que estamos a implementar à escala. São projetos cuja implementação já se iniciou e que permitirão aproximar-nos muito desse valor, senão até mesmo ultrapassá-lo, até ao início de 2026. Para ir além desse valor, necessitamos de olhar para tecnologias disruptivas”, tais como “a captura, uso e armazenamento de CO2, dado o peso significativo, cerca de 2/3, das nossas emissões de processo”.
Carbono
A mais curto prazo, a empresa garante que está a desenvolver produtos com menor pegada ambiental, isto é, “clínqueres com menor incorporação de calcário nas matérias-primas e menor pegada de CO2, cimentos com menor incorporação de clínquer com o recurso a outros tipos de materiais cimentícios (e.g., cinzas de aterro e argilas calcinadas com fíler calcário), betões com menor utilização de ligante e/ou materiais reciclados, e.g., agregados artificiais obtidos a partir de resíduos de construção e demolição, e a explorar de uma forma ativa o fenómeno da (re)carbonatação de betão, i.e., do betão como sumidouro de CO2”.
A mais longo prazo, no pós-2030, e com vista a alcançar a neutralidade carbónica em 2050, Paulo Rocha afirma que a empresa está a estudar a adoção de tecnologias que ainda não se encontram suficientemente desenvolvidas, tais como, “a captura, uso e armazenamento de CO2 -CCUS-, H2 em maior escala e novos tipos de clínquer”.
Sobre a captura de CO2, este responsável defende que é uma solução incontornável para a indústria dos cimentos já que dois terços das emissões da Cimpor “são emissões de processo, isto é, provenientes do processo químico de calcinação do calcário”.
Sobre o hidrogénio, refere que é uma matéria-prima que, além do seu valor energético, se combinada com o CO2 capturado nos fornos, permitirá produzir combustíveis sintéticos e produtos químicos de valor acrescentado. “Embora seja uma aposta de médio e longo-prazo, já estamos a estudar essa vertente com diversos parceiros nacionais e internacionais. Além disso, para a fração do CO2 que não puder ser utilizado, estamos a avaliar o potencial do seu armazenamento geológico em Portugal e, nesse sentido, participámos recentemente em projetos europeus e estamos a avaliar novas possibilidades”.
Betão “verde” versus betão convencional
Neste caminho para reduzir a pegada carbónica do grupo, a Betão Liz, que é uma empresa detida pela Cimpor e pela OYAK (grupo turco que em 2019 comprou a Cimpor), acaba de lançar o EcoBet, um betão “verde” produzido com resíduos, subprodutos ou materiais reciclados mais sustentáveis. Esta é uma das apostas do grupo para reduzir o impacto ambiental provocado pelo betão convencional.
Mas, afinal, o que é isto de betão “verde”? Paulo Capristano, diretor-geral da Betão Liz, explica ao Expresso SER que “o desenvolvimento de um betão mais sustentável passa pela adoção de diversas medidas com impacto positivo na redução de emissões de CO2, como seja a incorporação de cimentos com menor conteúdo de clínquer e de clínquer com menor pegada de carbono na produção de betão, bem como de resíduos, por exemplo, subprodutos de outras indústrias ou, no caso do betão, de materiais reciclados como resíduos de construção e demolição”.
O responsável não quantifica o ganho em termos de redução de pegada carbónica da utilização deste produto mas garante que, a médio prazo, “a pegada de carbono deste novo tipo de betão será seguramente inferior à do betão corrente”. Sobre o preço, releva que numa fase inicial será mais caro do que o betão corrente, “devido aos transportes, investimentos em instalações de reciclagem de materiais, sendo previsível que o mesmo se possa reduzir ao longo do tempo”.
A principal atividade da Betão Liz é a produção e comercialização de betão pronto e argamassas, sendo que a empresa conta com 36 centrais operacionais, distribuídas entre o Minho e o Algarve. Para minimizar a pegada destas centrais, Paulo Capristano garante que o grupo continua a apostar nos seus centros de investigação, além de estar a desenvolver projetos em colaboração com universidades e institutos de investigação para ter acesso a novas tecnologias e transformar-se numa empresa menos poluente.
Fonte: Expresso.